O Brasil caminha para colher uma das maiores safras de sua história recente, impulsionada pelo avanço da tecnologia no campo, clima favorável em diversas regiões e expansão da área plantada. A expectativa de produção recorde traz consigo a esperança de aliviar a inflação de alimentos no país, um dos principais pesos no bolso dos consumidores. No entanto, o cenário não é tão promissor quanto parece à primeira vista. Por trás da abundância no campo, escondem-se problemas estruturais graves que comprometem a eficiência na distribuição dos produtos agrícolas.
Entre os principais obstáculos está a deficiência crônica na logística brasileira. A infraestrutura de escoamento da produção continua defasada, com estradas mal conservadas, ferrovias insuficientes e portos congestionados. A ausência de uma rede integrada e moderna encarece o transporte de mercadorias e retarda o acesso dos produtos aos centros consumidores. Mesmo com uma safra abundante, o impacto positivo pode ser limitado caso esses gargalos não sejam enfrentados com urgência.
Um dos reflexos mais diretos dessa limitação é o aumento no custo do frete. O preço para transportar grãos e outros itens do campo até os armazéns ou terminais de exportação tem subido de forma significativa. A demanda supera a oferta de caminhões, especialmente em regiões onde a produção cresceu mais do que a capacidade de armazenamento. Esse desequilíbrio gera um efeito cascata, elevando os preços ao longo da cadeia produtiva e anulando parte dos benefícios econômicos esperados da supersafra.
A escassez de armazéns é outro fator crítico que pressiona o sistema. Sem locais suficientes para estocar a produção, produtores são forçados a vender rapidamente, muitas vezes por valores abaixo do ideal. Além disso, a falta de planejamento e investimentos em armazenagem em áreas estratégicas amplia os custos operacionais, pois exige transporte imediato para regiões distantes, comprometendo ainda mais a rentabilidade e a eficiência do processo logístico.
As ferrovias, embora mais econômicas e sustentáveis para o transporte de cargas em larga escala, ainda representam uma pequena parcela do escoamento da produção agrícola. Projetos de expansão ferroviária têm andado lentamente e sofrem com burocracias e falta de incentivos. Enquanto isso, o modal rodoviário continua sobrecarregado, com caminhões enfrentando longas distâncias, congestionamentos e elevação constante dos preços de combustíveis.
Os portos, responsáveis por boa parte das exportações agrícolas, também enfrentam dificuldades. Com estruturas antigas e capacidade limitada, muitos operam no limite, o que resulta em filas de navios, demora no carregamento e custos adicionais com taxas portuárias. Esse cenário enfraquece a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional e pode reduzir o entusiasmo de compradores estrangeiros, mesmo diante de uma oferta abundante.
O problema logístico no Brasil é antigo, mas se torna ainda mais evidente em anos de supersafra. A falta de um plano integrado de infraestrutura e a ausência de investimentos coordenados entre governo e iniciativa privada colocam em risco os ganhos potenciais gerados pela alta produção. Sem medidas eficazes, o país continuará colhendo muito, mas aproveitando pouco, com impactos diretos na inflação, nos preços internos e na balança comercial.
O momento exige uma abordagem estratégica, que vá além das promessas e dos discursos. É preciso pensar em soluções estruturais de longo prazo, mas também em medidas emergenciais que aliviem os custos imediatos e garantam que a supersafra traga de fato os benefícios esperados. Caso contrário, o excesso de grãos no campo pode se transformar em um símbolo do desperdício de oportunidades que marca, há décadas, a logística brasileira.
Autor : Alexey Orlov